Qual tem a borboleta por costume Qual tem a borboleta por costume, Que, enlevada na luz da acesa vela, Dando vai voltas mil, até que nela Se queima agora, agore se consume, Tal eu correndo vou ao vivo lume Desses olhos gentis, Aónia bela; E abraso-me por mais que com cautela Livrar-me a parte racional presume. Conheço o muito a que se atreve a vista, O quanto se levanta o pensamento, O como vou morrendo claramente; Porém, não quer Amor que lhe resista, Nem a minha alma o quer; que em tal tormento, Qual em glória maior, está contente. Luís de Camões