Tão Grande Dor <> palavras de um timorense à RTP Timor fragilíssimo e distante Do povo e da guerrilha Evanescente nas brumas da montanha <> Em frente ao pasmo atento das crianças Assim contava o poeta Rui Cinatti Sentado no chão Naquela noite em que voltara da viagem Timor Dever que não foi cumprido e que por isso dói Depois vieram notícias desgarradas Raras e confusas Violências mortes crueldade E anos após ano Ia crescendo sempre a atrocidade E dia a dia --- espanto prodígio assombro --- Cresceu a valentia Do povo e da guerrilha Evanescente nas brumas da montanha Timor cercado por um bruto silêncio Mais pesado e mais espesso do que o muro De Berlim que foi sempre falado Porque não era um muro mas um cerco Que por segundo cerco era cercado O cerco da surdez dos consumistas Tão cheios de jornais e de notícias Mas como se fosse o milagre pedido Pelo rio da prece ao som das balas As imagens do massacre foram salvas As imagens romperam os cercos do silêncio Irromperam nos écrans e os surdos viram A evidência nua das imagens Sophia de Mello Breyner Andresen