Quando me quer enganar Quando me quer enganar A minha bela perjura, Pera mais me confirmar O que quer certificar, Pelos seus olhos mo jura. Como meu contentamento Todo se rege por eles, Imagina o pensamento Que se faz agravo a eles Não crer tão grão juramento. Porém, como em casos tais Ando já visto e corrente, Sem outros certos sinais, Quanto me ela jura mais, Tanto mais cuido que mente. Então, vendo-lhe ofender Uns tais olhos como aqueles, Deixo-me antes tudo crer, Só pela não constranger A jurar falso por eles. Luís de Camões