Quem presumir, Senhora, de louvar-vos Quem presumir, Senhora, de louvar-vos Com humano saber, e não divino, Ficará de tamanha culpa dino Quamanha ficais sendo em contemplar-vos. Não pretenda ninguém de louvor dar-vos, Por mais que raro seja, e peregrino: Que vossa fermosura eu imagino Que Deus a ele só quis comparar-vos. Ditosa esta alma vossa, que quisestes Em posse pôr de prenda tão subida, Como, Senhora, foi a que me destes. Melhor a guardarei que a própria vida; Que, pois mercê tamanha me fizestes, De mim será jamais nunca esquecida. Luís de Camões